Já sou G'ande!

Tudo começou numa viagem de casa para o infantário... A minha filhota, no banco de trás, não conseguia dizer "barba", só lhe saía "babra"... "Não faz mal, pai, quando for g'ande eu consigo!" "Pois é filhota, ainda és pequenina! Tens de beber muito leite e dormir muito para cresceres e depois consegues!". É isto que os pais fazem, sempre que a criança fala em querer crescer, os pais aproveitam logo para dizer que elas têm de fazer o que não gostam, no caso, beber leite e ir dormir. Passaram dias, talvez semanas, alguns treinos "Diz ba-re-ba", "Ba-re-ba", "Boa, agora tudo junto: barba", "Babra!" até que finalmente saiu "Barba!!!"! Festa da grande, diz lá outra vez: "Barba! Barba, barba, barba!!!" O que eu não previ na altura foi o seguinte: sempre que dizemos à nossa filha que ela ainda é pequenita para fazer alguma coisa, ela pára, fita-nos e diz:"Oh Pai, mas eu já sou g'ande, já sei dizer barba. Queres ver? Olha, Barba!"... O que poderia ser um problema, mas para já ainda não é: "Pois é filhota, já és grande para dizer barba, mas ainda não consegues dizer grande! Gue-ran-de! Diz lá, tens de beber muito leite, bla, bla, bla, para conseguires!"... Imagino eu que não falte muito para ela conseguir dizer os Rs em todas as palavras sem grande dificuldade. Neste momento, já vai em "F'igorífico!"... portanto já não tenho muito tempo para inventar uma resposta, que envolva ela ainda precisar de crescer e beber leite e afins... No fundo sinto que é injusto a minha filha estar a evoluir na fala. É que há pessoas adultas que não conseguem dizer "os idosos". Não estou a falar do governo (não lhes chamam idosos, chamam-lhe fardo ou bode expiatório), estou a falar das pessoas que dizem "osjidosos"! Ou "asjigrejas", tudo com um silibar no J! Penso que foi a pensar nesta malta que o jornal I se criou, assim como assim, já há muita gente que a dizer "jornal" diz "jornali". "Outro dia estavam osjidosos a ler o jornali!" "Que jornal?" "Já te disse, o jornal I!" Enfim, mas o importante é que a esses, os pais puderem dizer sempre que eles ainda não eram grandes o suficiente para conseguir dizer essas palavras... E acaba por ser injusto, porque afinal é mais fácil criar uma criança em Viseu que no resto do país.