quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Mixórdia de problemáticas

É assim a vida: não há bela sem senão, There is no free lunch, e outras que tais. Na semana em que é noticiado que a mixórdia de temáticas vai voltar à ondas hertzianas, recebo também o meu primeiro ordenado do ano. Estará o leitor a pensar que não regulo bem, afinal são duas boas notícias. E poderia ter razão, poderia, mas não pode. De facto, a primeira é uma excelente notícia, que rir é o melhor remédio. Já liguei para a saúde 24 para confirmar, mas ninguém atendeu. Diz que despedir 60 funcionários piora o serviço, mas isso são as más línguas. Já a segunda, a do ordenado, é mais discutível. Depende se gostamos de ver o copo meio cheio ou meio vazio, ou, no contexto, depende se nos focamos na metade do ordenado que recebemos ou na metade que não recebemos. Eu sou tal e qual o governo, gosto de me focar na metade que não recebo! E eles lá vão tentando que essa metade fique maior que a outra, nem todas as metades são iguais. Quem parte e reparte e não escolhe a melhor metade, ou é tolo ou não tem arte. E digamos que ninguém reconhece tolice a este governo e arte tem-na de sobra: se o Vice é capaz de contorcionismo digno de um Cirque du Soleil, aquele do irrevogável, imaginem o artista principal. A dos ordenados é só outro exemplo: olha o teu ordenado todo, não tires os olhos, abracadabra e só ficou metade... Onde está a outra metade? Magia!... O governo diz que não tem nada contra os funcionários públicos, mas o problema é que me parece que também não tem nada a favor. Não é como com os reformados, que esses sim levam cortes como deve ser. Eu, se fosse reformado, fazia greve. Deixava de andar de transportes públicos e de jogar sueca nos bancos de jardim, só para mostrar quem manda. MAs o que vale é que a oposição trabalha bem e então lembraram-se agora de sugerir que o Salgueiro Maia seja levado para o panteão nacional para celebrar os 40 anos do 25 de Abril. Eu tenho sérias dúvidas em relação a isto. Primeiro, nem sabe dar um pontapé numa bola, nem nunca o ouvi cantar o fado. Segundo, depois de ver o país neste ponto, apesar de todos os seus sacrifícios em prol da nação, com as voltas que ele já deu no caixão de certeza que já não está no mesmo sítio. Não precisam de o levar para o panteão, basta dizerem-lhe para onde é, que ele vai lá ter sozinho.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O Rei

Já passou a onda de reacções e portanto está na hora de se falar neste assunto neste blog. É assim, gosto de surfar, mas quando o mar está flat... sem ondas. Sou daqueles que pela tenra (ou não tanto) idade nunca vi jogar o Eusébio ao vivo. Mas sou também daqueles que, graças ao youtube, já vi milhões de golos do Eusébio, quase todos um misto de velocidade, potência e técnica: um Cristiano Ronaldo dos tempos em que o mundo ainda não tinha cor, o que explica os filmes a preto e branco. É claro que Eusébio e Ronaldo não são comparáveis: se fosse hoje, Eusébio não tinha feito mais de uma época no Benfica, pois seria comprado por um colosso europeu por um balúrdio. Se jogasse na altura, Ronaldo não teria a capacidade física que tem: um jogador que nunca se lesiona é coisa que não existia na altura e que só um conhecimento de preparação física e de medicina avançada permitem, conjugado com leis do jogo que defendem os virtuosos. Que o diga Eusébio, que teve quase tantas operações aos joelhos (mesmo contado com as a frio, nos intervalos dos jogos, onde lhe era retirado líquido dos mesmos) como este governo fez leis inconstitucionais. Também me parece evidente que quando Ronaldo desaparecer não terá a mesma onda de reacções que teve Eusébio, não que seja menos merecedor, mas porque o futebol é hoje diferente. O Ronaldo não é o símbolo de nenhum clube como Eusébio o era. Existem poucos símbolos desses no futebol atual, tirando talvez um Ryan Giggs ou um Messi... Mas no futebol de outrora existem muitos, símbolos de clubes e/ou países: Maradona, Di Stefano, Pelé, Beckenbauer, George Best, Johan Cruyff... Eusébio foi o primeiro da linhagem a partir, mas nos próximos tempos veremos reações semelhantes noutros países. Mas o que para mim é verdadeiramente preocupante enquanto português dos (poucos) que (ainda) vivem em Portugal, é que o agradecimento que o povo em geral, celebridades e ilustres desconhecidos, tiveram no momento do desaparecimento físico do Pantera Negra não é comparável ao do desaparecimento de qualquer outra figura da política portuguesa. E mais do isso, os ilustres políticos sentem-se frustados com essa situação, pois de outra forma a reação do Mário Soares de chamar viciado em bebida e pouco culto a alguém que acaba de falecer não seria explicável. E deve ser por isso que quando se pergunta a um garoto de 10 anos o que ele quer ser quando for grande a resposta é muitas vezes futebolista, mas nunca político. É sintomático e ao mesmo tempo preocupante... Acho que em parceria com a Academia de Alcochete talvez fosse uma ideia fazer uma academia em S. Bento, mas com coaching estrangeiro. Por alguma razão somos um país pequeno que nos últimos 50 anos teve 3 Bolas de Ouro... tantas como as intervenções do FMI. E para 2014, estou quase certo que ganhamos mais uma Bola de Ouro... e quem sabe, mais uma intervenção externa.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Este país não é para velhos

Nada como começar o ano novo com uma onda de otimismo em relação ao que aí vem! Depois de mais um chumbo do tribunal constitucional, nada como o nosso Presidente omitir o assunto do orçamento de estado para 2014 na sua mensagem de ano novo. Parece que ele já tem a certeza de que não vamos precisar de segundo resgate, assim como no final de 2012 tinha a certeza de que estávamos a entrar numa espiral recessiva. Pela amostra, o senhor Presidente não têm lá muito jeito para futurologia, mas por alguma coisa é que se chama Prof. Cavaco Silva e não Prof. Kakumba. Outro aspeto curioso é que o nosso Presidente também se esqueceu de falar na Europa, em ano de eleições europeias e com algum ruído em alguns países sobre os países da periferia. No fundo já se sabe que estar na periferia tem vantagens e desvantagens. O preço das casas é menor, mas demora-se mais tempo a chegar ao centro, onde tudo se decide. É melhor aos fins-de-semana quando estamos livres e temos o campo, a praia e o sol ao dispor, mas pior no que se refere ao emprego. E também é pior para os reformados, que não têm transportes públicos para o centro. Apenas os que moram no centro ou que têm motoristas que os levem lá é que se safam... os outros tinham de "convergir", mas como já não podem, hão-de convergir de outra maneira qualquer. É vantagem de termos representantes presidenciais e governativos que se preocupam com a constituição e com os "velhos"... mas só com os do Restelo, que apesar de morarem quase na periferia, têm motorista. Não fosse o Palácio em Belém... Um nasce em Belém numas palhinhas deitado, outro ficam em Belém numa poltrona estendido... é assim a história.