terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O Rei

Já passou a onda de reacções e portanto está na hora de se falar neste assunto neste blog. É assim, gosto de surfar, mas quando o mar está flat... sem ondas. Sou daqueles que pela tenra (ou não tanto) idade nunca vi jogar o Eusébio ao vivo. Mas sou também daqueles que, graças ao youtube, já vi milhões de golos do Eusébio, quase todos um misto de velocidade, potência e técnica: um Cristiano Ronaldo dos tempos em que o mundo ainda não tinha cor, o que explica os filmes a preto e branco. É claro que Eusébio e Ronaldo não são comparáveis: se fosse hoje, Eusébio não tinha feito mais de uma época no Benfica, pois seria comprado por um colosso europeu por um balúrdio. Se jogasse na altura, Ronaldo não teria a capacidade física que tem: um jogador que nunca se lesiona é coisa que não existia na altura e que só um conhecimento de preparação física e de medicina avançada permitem, conjugado com leis do jogo que defendem os virtuosos. Que o diga Eusébio, que teve quase tantas operações aos joelhos (mesmo contado com as a frio, nos intervalos dos jogos, onde lhe era retirado líquido dos mesmos) como este governo fez leis inconstitucionais. Também me parece evidente que quando Ronaldo desaparecer não terá a mesma onda de reacções que teve Eusébio, não que seja menos merecedor, mas porque o futebol é hoje diferente. O Ronaldo não é o símbolo de nenhum clube como Eusébio o era. Existem poucos símbolos desses no futebol atual, tirando talvez um Ryan Giggs ou um Messi... Mas no futebol de outrora existem muitos, símbolos de clubes e/ou países: Maradona, Di Stefano, Pelé, Beckenbauer, George Best, Johan Cruyff... Eusébio foi o primeiro da linhagem a partir, mas nos próximos tempos veremos reações semelhantes noutros países. Mas o que para mim é verdadeiramente preocupante enquanto português dos (poucos) que (ainda) vivem em Portugal, é que o agradecimento que o povo em geral, celebridades e ilustres desconhecidos, tiveram no momento do desaparecimento físico do Pantera Negra não é comparável ao do desaparecimento de qualquer outra figura da política portuguesa. E mais do isso, os ilustres políticos sentem-se frustados com essa situação, pois de outra forma a reação do Mário Soares de chamar viciado em bebida e pouco culto a alguém que acaba de falecer não seria explicável. E deve ser por isso que quando se pergunta a um garoto de 10 anos o que ele quer ser quando for grande a resposta é muitas vezes futebolista, mas nunca político. É sintomático e ao mesmo tempo preocupante... Acho que em parceria com a Academia de Alcochete talvez fosse uma ideia fazer uma academia em S. Bento, mas com coaching estrangeiro. Por alguma razão somos um país pequeno que nos últimos 50 anos teve 3 Bolas de Ouro... tantas como as intervenções do FMI. E para 2014, estou quase certo que ganhamos mais uma Bola de Ouro... e quem sabe, mais uma intervenção externa.

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