Tempo de qualidade

A caminho do trabalho, 8h49, trânsito parado, estagnado. Frases sem verbos, estiloso, profundo, mas pouco sumo. Pouco sumo? Mas por pouco tempo... e com verbos. Isto porque, à medida que alguns dos carros à minha frente desistiam e davam meia volta, lá me apercebo do que aconteceu... Um camião da 'Compal' enfiou-se por uma ravina contra uma árvore (aparentemente ninguém se aleijou) e o reboque que o içava estava atravessado na estrada impedindo a circulação. Sim, à hora de ponta, que ninguém faça perder o tempo ao homem do reboque, que não podia ir lá uma hora mais tarde. Cá para mim o suposto acidente foi a maneira que o camionista encontrou de devolver a mercadoria às suas origens, não fosse o slogan da Compal 'fruta fresca'. 'Se é fruta fresca, foi arrancada agora da árvore... coitadinha! Mando-me já aqui contra esta árvore, para ela ficar toda contente...' Que atencioso... ou então estúpido, que ele espetou-se contra um salgueiro que nem sequer fruto dá. Outra hipótese é a fruta ter pregado uma partida ao condutor e este ter-se assustado e espetado contra a árvore ... 'é fresca, esta fruta'. E é isto que eu faço no carro quando tenho de passar uns 20 minutos, à espera que um problema destes se resolva: ocupo o meu tempo com explicações deste calibre! Há quem cante, quem aproveite para falar ao telemóvel, quem fale sozinho... enfim, loucos! Eu é que não dou o meu tempo como perdido... na realidade sei bem onde ele está... das 8h49 às 9h12, parado, bem presente, na minha mente... já os verbos, esses sim, perdidos, outra vez... shiu, silêncio... bebé na pianola, marteladas, passos de adulto, botão off, silêncio!...