O choque

Veio hoje o nosso primeiro ministro alertar os vários comentadores para o facto de que é preciso preparar a opinião pública para o orçamento de estado de 2014, para que não volte a haver um choque social. A ideia em si não é nova, mas era geralmente tomada por quem tinha um lápis azul atrás da orelha. No Passos Coelho o lápis não se vê, simplesmente porque estamos na era digital e para fazer alterações no texto dos telepontos não é preciso lápis. Enfim, o meu problema é que não sei bem como me preparar para o orçamento de estado que aí vem. Podia tratar já do bilhete de avião, mas o mais certo é ter uma greve do metro e da TAP nesse dia e ter de ficar por cá de qualquer das maneiras. Por isso, estou capaz de me sentar no sofá, colocar os óculos 3D e esperar que o Passos Coelho faça de novo um discurso na televisão, em que a mão dele sai da TV para nos ir à algibeira, o efeito especial mais utilizado por este governo. É curioso como as coisas mudam... dantes as guerras eram feitas com espingardas e as revoluções com cravos lá enfiados... agora, como as guerras são financeiras, só consegue fazer revoluções quem tiver carteiras Louis Vitton e dinheiro para comprar as flores para lá por!... É uma chatice... estamos cada vez mais pobres e cada vez as nossas carteiras estão mais cheias de cartões, daqueles que dão descontos de 10% em produtos cujo preço foi inflacionado por 15%. É o que dá vivermos numa sociedade de monopólios...se vivessemos numa sociedade de Triviais Pursuits seria bem diferente, pois com um povo bem letrado, não se tinha chegado a este ponto. Que o diga Oeiras, concelho mais habilitado do país, onde o candidato corrupto foi reeleito. "Ele rouba mas tem obra feita!" Impecável, agora imaginem se ele não roubasse, a obra que não seria! "Mas roubam todos,  os nossos políticos são assim!" Ah bom, então se são todos, vamos lá mantê-los em vez de arranjar outros que não roubem! Enfim, vamos lá deixar o Passos pegar no seu lápis azul e fazer as contas para o orçamento... enquanto isso, cá nos vão preparando para o choque, com os terrores das avaliações da troika, dos segundos resgates ou da saída do euro. No fundo, é como nos filmes de terror: para não nos assustarmos, basta mentalizarmo-nos que é apenas um filme. Aqui é igual, basta mentalizarmo-nos para tirar os óculos 3D, levantarmo-nos do sofá e começarmos a plantar os cravos, para ver se estão crescidos antes de Abril, que a maior parte de nós não chegam lá com condições de vida dignas...